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Não sou Brás Cubas mas vou começar a escrever sobre K-Pop pelo fim, isto é, pelo que tem me chamado a atenção recentemente. E um dos melhores jeitos de chamar a minha atenção com arte é apelar à estética visual. Quando se trata de artes visuais, gosto de coisas que tenham algum grau de simetria ou uma boa composição geral. Talvez por isso eu goste de estilos mais antigos, como o Barroco — que nem sempre é simétrico mas sempre ganha na composição das cenas, na elaboração dos detalhes.





Assim, fiquei encantado ao descobrir o clipe de "Twilight", do ONEUS. Gravado numa villa nos arredores de Milão, Itália, o vídeo foi lançado em 29/05/2019. Sem dúvida a locação foi muito bem escolhida, não apenas por ser bonita mas por criar um cenário dramaticamente adequado a uma música que compara uma separação a um por-do-sol. O clipe pode ser visto a seguir e conta com legendas em português — e quem quer que seja o autor dessa tradução fez um bom trabalho. Embora meus conhecimentos do idioma coreano ainda sejam parcos, conferi a tradução para outras línguas, sobretudo o inglês, como meio de comparação.





Então o que uma música de K-Pop tem a ver com Barroco? A associação com o cenário deste clipe certamente é a ligação mais óbvia, mas a coisa vai além disso. Escrita pelo compositor Kim Do-hoon, a letra também tem elementos semelhantes ao Barroco, como a antítese dos seguintes versos: "o quente sol está esfriando" ou "Mesmo quando a escuridão chega eu não oculto a luz". Tanto no clipe quanto na música, há um constante jogo de claro-escuro, outra característica bem barroca.





Melodicamente, a estrutura musical é simples e até meio repetitiva - o que se nota mais claramente na versão instrumental de "Twilight", também incluída no álbum Raise Us. Esta simplicidade, porém, é compensada por pequenas variações de tempo ou de ritmo. O resultado é uma melodia que pode evocar facilmente a imagem de um crepúsculo, um fenômeno que também é simples e sempre se repete mas nem por isso deixa de ser bonito. Embora esteja longe da complexidade das composições barrocas, a parte musical não deixa de ter um quê de música clássica.





Do ponto de vista estético, notam-se mais aproximações com o Barroco, com composições e enquadramentos ora simétricos ora assimétricos, tomadas ora aéreas ora bem pé-no-chão. A coreografia também parece simples em alguns momentos e difícil em outros. Há cenas externas e com muita luz e internas, com muita sombra. O interior requintado se contrapõe à floresta e à beira-lago. 





Os figurinos variam também, passado de algo que combina com o cenário clássico a estilos que soam deslocados pela modernidade. Alternam-se ainda cenas individuais de cada membro, sem dança, com passagens de coreografia coletiva. Tudo isso concorre para reforçar a noção de claro-escuro, luz-e-sombra que era tão caro aos artistas do Barroco.




Além de agradável esteticamente, "Twilight" mostra-se como uma produção bem-feita, inclusive do ponto de vista cultural. Situada do outro lado do mundo, a Coreia não teve algo como o Barroco europeu dos séculos XVII e XVIII em sua História da Arte. Mesmo assim, os produtores do videoclipe — e talvez os membros do ONEUS — estudaram suas referências, fizeram bem a lição de casa e nos dão uma releitura interessante daquele velho estilo artístico.




[Esta resenha foi publicada originalmente no Instagram em 02/04/2020]

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